Berço do fado

José Fernandes Castro
Música de Carlos da Maia
Repertório de Manuel Cardinal


Tens sempre para nos dar
O encanto que tem o mar
Sempre que a noite acontece
Com rara soberania
Vais pondo aromas no dia
Sempre que o sol aparece

Tens o enorme talento
Dum poema ternurento
Do Raínho ou do Ary
Quase que tenho a certeza
Que o fascínio da beleza
Foi inventado por ti

Tu és voz mistificada
Que entoa na madrugada
E no céu do meu espaço
Uma voz de raro brilho
Qual mãe que pariu um filho
E o aperta num abraço

Tu és voz que surpreende
Quando ninguém compreende
Os fogos da tua dor
Tu és voz que se levanta
Sempre que a saudade canta
Versos dum perfeito amor

Nem sempre é alma de fado

Letra de José Fernandes Castro 
Música de Alfredo Duarte *Marceneiro*
Repertório de Manuel Delindro (ao vivo)


Uma voz que nos encanta
No sopro que se levanta
Ao compasso anunciado
Nem sempre nos dá magia
Nem sempre nos arrepia
Nem sempre é alma de fado

Uma guitarra gemendo
Com a viola envolvendo
Acordes do nosso agrado
Nem sempre vibra a preceito
Nem sempre nos enche o peito
Nem sempre é alma de fado

Alma de fado só tem
Quem sente como ninguém
As mensagens da saudade
Alma de fado é a vida
Qual história acontecida
Em nome da felicidade

Questões da alma

Letra de José Fernandes Castro
Música de Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Pedro Ferreira (ao vivo)


Falei há pouco tempo com o tempo
E perguntei p´lo tempo que vivi
O tempo respondeu; espera um momento
Hoje não tenho tempo para ti

Falei há pouco tempo com a vida
Para tentar saber que vida tenho
A vida respondeu-me de seguida;
Eu não tenho medida nem tamanho

Falei com a saudade e com o fado
O casal mais perfeito que conheço
Perguntei porque andam lado a lado
Responderam; é assim desde o começo

Falei há pouco tempo com o amor
Perguntado que amor posso esperar
O coração respondeu; tens o melhor
E o maior amor que pude dar

Tribunal do amor

Letra de José Fernandes Castro 
Música de José Marques *fado triplicado*
Repertório de Maria do Sameiro (ao vivo)


Com grande leviandade
Acusaram a saudade
De fazer chorar o mundo
Disseram até que o sonho
Morreu muito mais tristonho
E de desgosto profundo

Ao tribunal do amor
Foi a saudade depôr
Num processo bem antigo
Levou como advogado
O nosso bendito fado
Seu fiel e grande amigo

Melhorou a situação
Quando o senhor coração
Se fez ouvir com agrado
Dizendo num tom bem forte
Que o rumo da nossa sorte
Depende do nosso fado

A audiência findou
Quando o juiz decretou
Esta lei de sensatez
Em nome do sentimento
A saudade fica dentro
Do coração português

A noite do cansaço

Letra de José Fernandes Castro 
Música de Mike Martins
Repertório de Fernanda Moreira


A saudade emoldurada
P’lo arvoredo calado
Do Vasco, seu trovador
Vagueia na madrugada
Sempre embalada p’lo fado
Que se canta com amor

A noite que o Vasco amou
Foi leito onde descansou
Cansaços d'amor fatal
Porque a noite também tem
Poemas onde ninguém
Rejeita o verso final

Ser da noite um filho noite
É merecer um acoite
No abraço genuíno
A noite tem o poder
De apagar e acender
A luz do próprio destino

Mensagem da distância

Letra de José Fernandes Castro
Declamado por Américo Pereira


Daqui, desta cidade apetecida
Refúgio do meu fado redentor
Te envio rosas brancas, minha querida
Em paga do teu doce e grande amor

Daqui também te envio este poema
Ditado pela voz com que te canto
Tu és musa real deste meu tema
Por ti, a solidão não me dói tanto

Aqui, nesta distância que faz lei
O luar não tem um brilho natural
Confesso meu amor, que já nem sei
Se a vida é primavera ou vendaval

Vou tendo a minha cruz, mas no entanto
Consigo ser feliz, porque te quero
Apenas tenho sonhos de quebranto
Na noite em que por ti sou desespero

O roteiro do passado

Letra de José Fernandes Castro e Serafim Gesta 
Música de José Duarte *fado seixal*
Repertório de José Giesta


Vejam bem como é bonito
O fontanário de agora
Tem Santo António no meio
E no nicho do passeio
Tem também Nossa Senhora

Eu não me posso esquecer
Num roteiro do passado
Os operários artistas
Que por serem bons fadistas
Valorizaram o fado

O “Cunha” o “José da Gama”
E o “Avelino Gesta”
Foram alguns dos cantores
Poetas e trovadores
Todos de origem modesta

As castiças sardinheiras
Soltavam pregões à toa
E a mente mais recatada
Lembra “Maria Parada”
E também “Linda Pinhoa”

Este fado tão singelo
Não fala de toda a gente
Porém fala da saudade
Que ficou na mocidade
Mas que no peito se sente

Fado cultura (humor)

Letra de José Fernandes Castro 
Música de Eduardo Damas *Oh tempo volta p’ra trás*
Repertório de João Luís Mendonça


Sou um tipo muito culto
Cheio de filosofia
Até parece um insulto
Eu não ter academia

Andei dez anos na escola
E depois de muito estudo
Fui corrido ao bofetão
Pois esta minha carola
Estilo melão tronchudo
Tem areia até mais não

Sou Burro, mas bonitinho
E um pouco envergonhado
Se tivesse um bom padrinho
Podia ser deputado
Sou Burro, mas lá no fundo
Sou um Burro diferente
E só não sou mister mundo
Porque sou muito doente


D. Diniz o “Lavrador”
Foi rei e fez um pinhal
Eu como sou bem melhor
Vou fazer um areal

E se a coisa der pró torto
Mandarei fazer no Porto
Um império de nabais
Vou às universidades
E também às faculdades
Que têm nabos a mais

Proa de Cacilheiro

Letra de José Fernandes Castro 
Música de Georgino de Sousa *fado georgino*
Repertório de José Rasgadinho (ao vivo)


Na proa do Cacilheiro
Viajam acomodadas
As gaivotas da cidade
Lembrando ao bom marinheiro
Que as águas ficam salgadas
Sempre que chora a saudade

Da proa podemos ver
O pôr-do-sol a nascer
Do jeito mais natural
Pôr-do-sol que sempre traz
O doce clarão da paz
Dando luz a Portugal

Cacilheiros são a história
Dum tempo feito glória
Que na memória ficou
Sopros dum tempo passado
Em que pela voz do fado
Portugal se transformou

Beijos

Letra de José Fernandes Castro 
Letra de Carlos Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Silva Machado (ao vivo)


Dei-te um beijo e percebi
Como matar um desejo
Confesso que foi por ti
Que senti e descobri
A alma pura do beijo

Dei-te um beijo penetrante
Demorado e sonhador
Um beijo foi o bastante
Para tornar mais constante
Este meu sonho d’amor

Um beijo, quando sonhado
Tem um sabor diferente
Umas vezes sabe a fado
Outras vezes, por pecado
Sabe aos caprichos da mente

E quando o beijo acontece
Duma forma natural
O coração estremece
O medo desaparece
E a vida é sonho real

Só me conheço por ti

Letra de José Fernandes Castro
Música de João Blak *fado menor do porto*
Repertório de Américo Pereira (em vídeo)


Não conheço a cor do sonho
Nem sei se o sonho tem cor
Apenas sei que componho
Para ti... versos d’amor

Não conheço a cor do mar
Nem lhe conheço a idade
Apenas sei que ao cantar
Sou a onda da saudade

Não conheço a primavera
Nem sei se ela vem ou não
Só sei que minh’alma encerra
O inverno da paixão

Não me conheço por dentro
Quando estás dentro de mim
Só sei que no pensamento
És fado que não tem fim

Natal, Natal

Letra de José Fernandes Castro
Música de Raúl Ferrão *fado maria severa*
António Passos ao vivo na RF


Dezembro tem outra luz
E tem um brilho mais redentor
Dezembro lembra Jesus
Filho perfeito do Criador

Dezembro tem a esperança 
A bailar muito melhor
No olhar duma criança 
O sonho nunca se cansa
E tudo tem nova cor;
A cor do amor

Chegou o Natal
O mundo mudou
Já nada é igual 
Aos dias normais
Chegou o Natal
O amor duplicou
Mas p’ra nosso mal 
Não há mais natais

Há sinos que vão tocando
Quase cantando lindas canções
Vão pondo mais nostalgia
E mais magia nos corações

Dezembro devia ter 
Uma longa duração
E o Natal devia ser 
Um jardim a florescer
Na palma de cada mão;
E no coração

Sandra

Letra de José Fernandes Castro
Música de José Lopes (Zézito)
Repertório de Duo Cintilante


Tudo em ti me fascina
Tudo em ti é paixão
És farol que ilumina
Os versos desta canção


Sei que vamos conseguir
A mais bonita união
Nascida do nosso beijo
Dia a dia vão surgir
Razões para o coração
Arder no nosso desejo

Sei que vamos decifrar
A cor da nossa verdade
No fogo da sedução
Diremos o verbo amar
Revestindo a felicidade
Através desta paixão

Esconderijo

Letra de José Fernandes Castro
Música de Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Manuel Delindro



Escondi-me da vida p'ra que o tempo
Passasse devagar, mas mesmo assim
A vida descobriu-me em sentimento
E manteve o amor perto de mim

Escondi-me do sonho mais perfeito
P'ra não sentir o medo nem a dor
O sonho acomodou-se no meu peito
E dele fez o leito do amor

Escondi-me também do teu sorriso
P'ra não mais sucumbir ao teu encanto
Mais tarde descobri o paraíso
No sorriso que tens e que amo tanto

Agora nada escondo, tudo dou
Dou alma em cada verso musicado
Agora, meu amor, sei o que sou
Agora, meu amor, sou o teu fado

Ciganita mulher

Letra de José Fernandes Castro
Música de Carlos da Maia *fado perseguição
Repertório de Manuel Salé (ao vivo)



Ciganita d’olhar puro
Que lês na palma da mão
O futuro das manhãs
Acautela o teu futuro
Para que teu coração
Não sofra promessas vãs

Ciganita, tem cuidado
Porque nos sopros da alma 
A tempestade é atroz
Cada um tem o seu fado
E a alma não se acalma 
Quando não lhe damos voz

Tens contigo a singeleza
E o dom de adivinhar 
As paixões de quem se que
Porém não tens, concerteza
Alguém, a quem dedicar 
Os teus sonhos de mulher

E lá vais de rua em rua
Buscando linhas da mão 
Como quem busca verdade
Ciganita continua
Em busca duma paixão 
Que te dê felicidade

Deambulação poética

José Fernandes Castro
Declamado por Américo Pereira


Ali, ao dobrar da esquina
Apreciando a beleza
Duma jovial menina
De raça bem portuguesa;
Reparei que a natureza
Tem coisas intemporais
Que talvez sejam normais
Para quem pouco conhece

Porém, a mim me parece 
Que a natureza destina
Uma luz quase divina 
Que quase sempre escurece;
E quando o tempo amanhece 
Da forma mais genuína
Qualquer sol desaparece 
Ali ao dobrar da esquina

Ali ao dobrar do tempo 
Temendo o tempo que vinha
Reparei quanto é mesquinha 
A alma do pensamento;
Tão frágil é o momento 
Em que as vidas se desatam
E por vezes se maltratam 
Com a dor do sofrimento;
P’la falta de sentimento 
Há sorrisos de negrura
O sol é de pouca dura 
A lua é raro sustento;
Enquanto no firmamento 
Uma estrela chora triste
Porque pouco ou nada existe 
Ali ao dobrar do tempo

Ali ao dobrar da vida 
Projetada para a morte
Reparei o quanto é forte
A memória da partida;
Ai sorte... maldita sorte 
Que andas de mim fugida
Desviando-me do norte
Ali ao dobrar da vida

Poema de maio

Letra de José Fernandes Castro
Música de André Teixeira
Repertório de Mariana Correia


Meu tempo de viver sempre amarrado
Ao som do som que tem a voz maior
Irrompe na minh’alma quando o fado
Ocupa o espaço certo do amor

Meu tempo de viver alegremente
Atravessa comigo qualquer mar
Imponente… sem querer ser imponente
Ousado… sem sequer querer ousar

Metida nesta pele a que pertenço
Apenas tenho em mim, para viver
Invernos onde o céu parece imenso
Outonos onde a lua é mais mulher

Irrompe na minh’alma quando o fado
Ocupa o espaço certo do amor
Irrompe na minh’alma
Quanto fado

Amor tão nosso

Letra de José Fernandes Castro
Música de Miguel Ramos *fado margarida*
Repertório de José Neves (ao vivo)


Quem fez o nosso amor soube o que fez
Ao dar-lhe o som dum fado que é só nosso
O nosso amor cantado em português
Mantém os corações em alvoroço

Quem fez o nosso amor deu-lhe o ciúme
Normal, como normal é a certeza
Que mesmo nos momentos de azedume
A chama da paixão mantém-se acesa

Quem fez o nosso amor também lhe deu
O brilho duma lágrima furtiva
A ligação do mar ao próprio céu
Mantém a natureza sempre ativa

Pensando bem melhor... o nosso amor
Que tem deixado as mágoas pra depois
É o jardim perfeito que deu flor
Pois quem fez o amor, fomos nós dois

Voltei à vida

Letra de José Fernandes Castro
Música de Júlio de Sousa *fado loucura*
Repertório de Lúcio Bamond


Estou aqui voltei à vida
Voltei p’ra continuar
A ser o que quero ser
Estou aqui de voz erguida
Se nasci para cantar
A cantar quero viver

Venci o medo 
Que me trazia amarrado
E me dizia que o fado,
Que era meu, ia ter fim
Venci as dores 
Da alma que Deus me deu
Agora olho p’ró céu
Porque o céu olha por mim

Estou aqui de corpo inteiro
O meu tempo derradeiro
Tem o destino p’la frente
Estou aqui na minha praia
Sou onda que não desmaia
Nem se perde na corrente

Bailados na voz

Letra de José Fernandes Castro
Música de Martinho d’Assunção
Repertório de Mariana Correia


Baila na minha voz o nome da cidade
Que vestiu de beleza as rimas do meu fado
Baila na minha voz a naturalidade
Duma casta princesa e dum rei encantado

Baila na minha voz a magia dum rio
Que tem as ninfas todas duma lenda bairrista
Baila na minha voz o som do casario
A alma dos poetas e a musa mais fadista

Baila na minha voz o nome que te dei
Que sendo o que mais gosto, é sempre o mais bonito
Baila na minha voz um fado que gerei
Para te pôr no rosto um sol quase infinito

Avezinhas felizes

Letra de José Fernandes Castro *3 estrofes*
e Lino Lobão *4ª estrofe*

Música de Lino Lobão
Repertório de Lino Lobão


Eram duas avezinhas
Cada uma com um ninho
Onde a rotina morava
Mas apesar de sozinhas
Não lhes faltava o carinho
Que a natureza lhes dava

Tinham à sua mercê
A liberdade bastante 
Para viverem felizes
Só não tinham, bem se vê
Um amor puro, constante 
Para criarem raízes

Porém, num bendito dia
Cruzaram-se no caminho 
Que o céu da vida mostrou
E assim nasceu, por magia
O símbolo do carinho
Com que a paixão as brindou

Como essas avezinhas
Há quem escreva na vida 
Uns lindos versos amor
Mas se ficarem sozinhas
Choram a vida perdida 
Cantando versos de dor

Amor aniquilado

Letra e José Fernandes Castro
Música de Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Berta Miranda


Da vida que passei inutilmente
Matei tudo o que havia p'ra matar
Só não matei a forma deprimente
Que tenho quando quero em ti falar

Pois sempre que o teu rosto me aparece
Desperta esta saudade magoada
Que me dói muito mais, porque enlouquece
E mais parece sombra enfeitiçada

Matei todas as más recordações
Daquele amor vazio, sem ter céu
Matei também aquelas deceções
Que recebe quem ama como eu

Matei a solidão, matei o tempo
Matei até a cor da felicidade
Só não matei a luz que cá por dentro
Se mantém com a mesma intensidade

Quero sempre mais um fado

Letra de José Fernandes Castro
Música de José Marques *fado triplicado*
Repertório de Mariana Correia


Com a alma enfeitiçada
Saciada e aconchegada
Por versos do meu agrado
Quase nunca me contento
E alimento o sentimento
Com versos de mais um fado

Posso sentir que o cansaço
É espaço onde refaço 
O corpo já fatigado
A alma da própria vida
Desiludida e perdida 
É sempre a alma do fado

Na hora da solidão
A razão do coração 
É um sopro musicado
Sopro que vem quando quer
Ter o prazer de beber 
Essências do próprio fado

P’ra maior contentamento
Eu invento o tal momento 
Pela voz, abençoado
Para matar a saudade
Que m'invade em felicidade 
Quero sempre mais um fado

Basta um sorriso rasgado

Letra de José Fernandes Castro
Música de Alfredo Duarte
Repertório de Silva Machado


Basta um sorriso rasgado
No rosto de quem nos fala
Para decifrar um fado
Bem escrito e bem cantado
Que por amor, nos embala

Basta um aperto de mão 
Dado no momento certo
P’ra sentir a emoção 
Bem dentro do coração
E ter o amor mais perto

Basta uma frase vulgar 
Dita com voz de verdade
P’ra poder valorizar 
Cuidar e perpetuar
Uma perfeita amizade

Basta um sorriso profundo 
Com brilhos de luz florida
P’ra que apenas num segundo 
Todas as flores do mundo
Ponham aromas na vida

Lei do fado, do amor e da vida

Letra de José Fernandes Castro
Música de Pedro Rodrigues *fado primavera*
Repertório de Catarina Dionísio *ao vivo


Perguntei ao fado amigo
Porque lhe chamam antigo
Mais antigo que a saudade
O fado disse: sou jovem
E os sonhos que então me movem
São todos da minha idade

Antigo é não ter noção
De que a voz do coração 
É um hino intemporal
Lei do fado é lei cumprida
Lei do amor é lei da vida 
Lei do tempo é transversal

Antigo nunca serei
Pois sempre caminharei 
À frente do meu destino
Quem quer estar a meu lado
Tem de se manter ligado 
Ao sonho mais genuíno

Maldita dor

Letra de José Fernandes Castro
Música de André Teixeira *fado guilherme*
Repertório de Leonor Santos


Ó maldita dor
Que marcas presença
Trazendo a amargura violentamente
Causadora-mor
Da dor mais intensa
Que deixas escura a alma da gente

Sabemos que tens a vil crueldade
Usada a destempo de forma mordaz
E sempre que vens roubar felicidade
Trazes o tormento que tanto mal faz

Oh maldita dor, vai-te lá embora
E deixa comigo a minha verdade
Eu quero supor que a alma só chora
Porque tem consigo a luz da saudade

A alma dos poetas

Letra de José Fernandes Castro
Música de Lino Lobão
Repertório de João Robalinho


Poetas trazem sopros de saudade
No sol da felicidade e do prazer
Nas veias, trazem sonhos de verdade
Marcando o seu direito de viver

Nas mãos, trazem sementes de ternura 
Fazendo germinar o pensamento
Na boca, trazem frases de doçura 
E vão adocicando a lei do tempo

No peito magoado pela vida 
Escondem o pulsar da solidão
E buscam a tal vida prometida 
Nos dias decretados p’la paixão

Percorrem com amor e com coragem
As ruas do mistério natural
E fazem da poesia, uma viagem 
Ao mundo do prazer celestial

Meu Fado de hoje e de sempre

Letra de José Fernandes Castro e Mónica Costa
Música de Raúl Portela (fado magala)
Repertório de Leonor Santos


Com a voz que Deus me deu
Eu canto de olhar fechado
Guitarras são o meu céu
Sopro profundo do fado

Enquanto o meu xaile dança 
Minha alma esquece tudo
Eu pareço uma criança 
De coração tão desnudo

Canto e choro de contente 
Enquanto o xaile bailar
Dou-me toda inteiramente 
O meu é destino cantar

Fado de ontem, fado de hoje 
Redenção e alento puro
Enquanto o tempo não foge 
Faço valer o futuro

Com a voz que Deus me deu 
Eu canto de olhar cerrado
Ao dar aquilo que é meu 
Sinto bem que sou do fado

Intenso

Letra de José Fernandes Castro
Música de Armandinho *alexandrino*
Repertório de João Robalinho


Amar-te pode ser acordar em sorriso
Ter o mundo ao dispor e dele desfrutar
Amar-te pode ser chegar ao paraíso
Numa nuvem d'amor e nele pernoitar

Amar-te pode ser o princípio de tudo
Na hora da partida e também da chegada
Amor que teimas ser o meu grito tão mudo
Amar-te pode ser a noite e madrugada

Amar-te pode ser alcançar o futuro
No instante maior da nossa liberdade
Amar-te é perceber o código mais puro
Duma troca d'amor em pura felicidade

Meu Alentejo fadista

Letra de José Fernandes Castro
Música de Cavalheiro Júnior *fado porto*
Repertório de Fábio Frieza


Meu Alentejo fadista
De beleza inquietante
Para quem te sabe ver
O teu perfil intimista
Tem a cor insinuante
Da mais bonita mulher

O teu sol acolhedor
Cheio de brilho e de cor 
Tem sempre um calor real
E quando a noite acontece
O teu luar nos parece 
Um poema natural

Meu Alentejo, meu berço
Eu apenas me conheço 
Quando te canto num fado
Ao compasso da saudade
Eu quero que a tua idade 
Seja um poema encantado