Deambulação poética

José Fernandes Castro
Declamado por Américo Pereira


Ali, ao dobrar da esquina
Apreciando a beleza
Duma jovial menina
De raça bem portuguesa;
Reparei que a natureza
Tem coisas intemporais
Que talvez sejam normais
Para quem pouco conhece

Porém, a mim me parece 
Que a natureza destina
Uma luz quase divina 
Que quase sempre escurece;
E quando o tempo amanhece 
Da forma mais genuína
Qualquer sol desaparece 
Ali ao dobrar da esquina

Ali ao dobrar do tempo 
Temendo o tempo que vinha
Reparei quanto é mesquinha 
A alma do pensamento;
Tão frágil é o momento 
Em que as vidas se desatam
E por vezes se maltratam 
Com a dor do sofrimento;
P’la falta de sentimento 
Há sorrisos de negrura
O sol é de pouca dura 
A lua é raro sustento;
Enquanto no firmamento 
Uma estrela chora triste
Porque pouco ou nada existe 
Ali ao dobrar do tempo

Ali ao dobrar da vida 
Projetada para a morte
Reparei o quanto é forte
A memória da partida;
Ai sorte... maldita sorte 
Que andas de mim fugida
Desviando-me do norte
Ali ao dobrar da vida